domingo, 13 de julho de 2014

A nossa Obra

Ao fim de todo este trabalho, nos foi solicitada o desenvolvimento deste blog e de uma obra que tivesse relação com a estética da vanguarda futurista. Eis que nos reunimos em uma tarde na escola, e começamos a montar tanto o blog quanto nossa magnífica pintura, feita em uma cartolina, com lápis aquareláveis, tinta nanking, e giz pastel seco. Foi nesta hora que alguns dons artísticos tiveram certa utilidade para nós, o que não quer dizer que a obra tenha ficado boa. Mas podemos afirmar que foi uma tarde divertida, com muitas risadas e trabalho duro, como você pode ver nas fotos tiradas pela única componente feminina do grupo, que preferiu não aparecer.









E agora, o momento que todos estavam aguardando, o resultado final de nossa belíssima obra de arte de estética futurista, a qual resolvemos chamar de A velocidade sobre nossas cabeças, contemplem a majestosidade de nossa criação.

 E assim, com esta beleza de obra, decretamos finalizado este trabalho, que nos consumiu muitas horas de sono e muita energia. Esperamos que todos tenham gostado.

As obras futuristas

   A seguir, constam algumas das obras feitas por pintores que participaram da vanguarda futurista, com uma imagem da obra e em seguida um texto explicando o motivo de tal obra ser considerada futurista.













































































































BOCCIONI,Umberto, "A carga dos lanceiros". Têmpera e colagem sobre papelão, 32 X 50.
            A obra de Boccioni faz parte da vanguarda futurista pois, dentre os aspectos do futurismo o autor usa a sensação de velocidade abstrata já  que na obra tudo parece está se movendo de um jeito meio indefinido. O uso de formas geométricas para a representação do que se deseja também é uma marca característica do futurismo. A dinamicidade da obra demonstra que ela faz parte do futurismo pois isso também é uma característica marcante do futurismo. E além de tudo isso, a obra representa o terror da uerra e da violência, como visto nos homens à cavalo e os traços fortes e marcantes, algo muito recorrente nas obras futuristas. 
                     BOCCIONI, Umberto, "O dinâmismo de um ciclista", óleo sobre tela 70 X 95.            Está obra é futurista pois, como o próprio nome já diz ela representa o movimentação, a dinâmica do ciclista. A obra não tem formas muito definidas, apenas algumas formas geométricas que são uma das características da vanguarda futurista assim como os aspectos mecânicos que vem do fato de ser uma pessoa em uma bicicleta se locomovendo. A obra também dá uma sensação de velocidade, que embora não consigamos sentir, podemos ver que ela está ali pelos traços mais alongados dos artistas e pelo "deformação" do cenário de fundo.
                      BOCCIONI, Umberto, "Estado de espírito”. Óleo sobre tela, 70,5 X 96.            Está obra faz parte da vanguarda futurista pois nela está retratado um trem, que é tudo que o futurismo retratava, que era a modernização e a maquinização de tudo. A obra foi pintada quase toda ela com forma geométrica que era uma das características do futurismo, para retratar a padronização da sociedade.
                          CARRÁ, Carlo. "Funeral do anarquista Galli", óleo sobre tela, 189 X 259.            Está obra faz parte da vanguarda futurista pois representa o movimento, que é uma das características mais recorrentes nas obras futuristas. Este quadro representa uma cena que aconteceu no funeral de um anarquista, onde as autoridades não permitiram a entrada de outros anarquistas, com medo de que o funeral se tornasse de cunho político (Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/08/11/pintura-funeral-do-anarquista-galli-119201.asp, acesso: 02 de julho de 14) . Na obra é usada as já conhecidas formas geométricas que muito acompanham a vanguarda futurista.
                                      BALLA, Giacommo. "Árvores mutiladas", óleo sobre tela.            Esta obra de Giacomo Balla faz parte da vanguarda futurista pois saúda o modernismo, com uma representação de uma floresta sendo desmatada provavelmente podemos imaginar por alguma máquina. A obra passa a sensação de movimento, como se tudo estivesse sendo distorcido. Nada está parado, está tudo se movendo de um jeito dinâmico.
                                  BALLA, Giacomo. "Velocidade do automóvel", óleo sobre tela.            Esta obra pertence à vanguarda futurista pois ela representa a velocidade. Também tem a saudação a modernidade em meio ao automóvel, que é algo muito representado entre os futuristas. A imagem também é como se fosse várias fotografias em seguida, que foi um meio dos artistas futuristas encontraram para representar a velocidade. A obra é feita por formas geométricas que é muito comum dentre os artistas futuristas, e a forma do objeto representado é deformado, algo também muito comum quando dentre os futuristas.  
                                               Velocitá d'Automobile, BALLA, GiacomoEsta obra faz parte da vanguarda futurista, nela são encontradas características que pertencem ao futurismo, como por exemplo a exaltação a máquina, a velocidade, e ao progresso. Outra característica e que a obra  não tem uma forma concreta e é representada com muitas linhas e cores monótonas.
                                       Velocitá Abstratta;BALLA, Giacomo; Coleção particularEsta obra também faz parte da vanguarda futurista, pois como é muito comum nas obras de Balla, ela exalta a máquina. A obra não tem uma forma concreta sendo representada apenas por um várias linhas que servem para passar a sensação de velocidade, e não para representar algum objeto, ou no caso o carro.
                                         Dnamisme d'une Automobile; RUSSOLO, Luigi; 1911Esta obra faz parte da vanguarda futurista pois tem a clássica referencia a máquina. Nesta obra, assim como muitas outras, ela não é uma representação da realidade e sim é uma representação da sensação do "dinamismo" do automóvel.
                                           Forças de uma Rua; BOCCIONI, Umberto; 1911Nesta obra, Boccioni confunde um pouco dos aspectos do Cubismo e do Impressionismo para representar uma rua à noite.
                             Automóvel + Velocidade + Luz; BALLA, Giacomo; Coleção particular.Está obra de Balla pertence a estética futurista pois exalta três das principais características do futurismo, que são a máquina, a velocidade e a luz. Essas três características são representadas pelas linhas que passam sensações e não a representação concreta do objeto.
                                                      Ciclista; GONCHAROVA, Natália; 1911Esta obra pertence a estética futurista pois representa o movimento, passa a sensação de movimento, algo que os futuristas tentavam muito fazer, que é trabalhar não só com a representação exata do objeto mas também com coisas de formas abstratas.
                                       Dinamismo de um Jogador de Futebol; BOCCIONI, UmbertoEsta obra de Boccioni pertence a vanguarda futurista pois representa o movimento do jogador. Mesmo que o jogador não tenha uma forma concreta na obra, ele esta sendo representado pela tentativa de passar a sensação do movimento dele.
                                         Canhão em Ação; SEVERINI, Gino; 1915; óleo na tela.Esta obra pertence a estética futurista pois retrata a guerra, algo que era marca dos futuristas. Outra característica que faz pertencer ao futurismo é a referencia a tecnologia, no caso, o canhão.
                                               Motociclista; MONTE, Mario Guido Dal; 1927.Esta obra pertence a vanguarda futurista pois representa o movimento do ciclista, algo que os futuristas representavam bastante. Outra característica que faz ela ser da estética futurista é que a obra faz representação da máquina, que no caso é a motocicleta.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

Bibliografia

Estão listadas à seguir todas as fontes, impressas ou digitais, que utilizamos para realizar nossas pesquisas, e cujas informações inspiraram nossas mentes a produzir os textos contidos neste site.

Livros:
- HUMPHREYS, Richard. Futurismo. São Paulo: Cosac & Naify, 1999;
- MICHELI, Mário de. As vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes, 1991;
- FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar: fotografia e artes visuais no período das vanguardas históricas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011;
- DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: Cosac & Naify , 2003.

Sites:

- http://www.portalcapixabao.com/sites/?c=1954&p=794&exibe=222
- http://global.britannica.com/EBchecked/topic/70885/Umberto-Boccioni
-ttp://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_colecao/exposicao_cole cao_obras6_carra_biografia.asp
- http://www.knoow.net/arteseletras/literatura/marinetti_filippo_tommaso.htm
- http://www.algosobre.com.br/biografias/filippo-marinetti.html
- http://www.escritas.org/pt/biografia/fernando-pessoa

http://www.portalcapixabao.com/sites/?c=1954&p=786&exibe=222&s=paganotto_casa_do_artista

Fundação e Manifesto Futurista

20 de fevereiro de 1909
Havíamos velado a noite inteira -meu amigo e eu- sob lâmpadas de mesquita com cúpulas de latão perfurado, estreladas como nossas almas, porque como estas irradiadas pelo fulgor fechado de um coração elétrico. Tínhamos conculcado opulentos tapetes orientais nossa acídia atávica, discutindo diante dos limites extremos da lógica e enegrecendo muito o papel com escritos frenéticos.
Um orgulho imenso intumescia nossos peitos, pois nós nos sentíamos os únicos, naquela hora, despertos e eretos, como faróis soberbos ou como sentinelas avançadas, diante do exército de estrelas inimigas, que olhavam furtivas de seus acampamentos celestes. Sós com os foguistas que se agitam diante dos fornos infernais dos grandes navios, sós com os negros fantasmas que remexem nas barrigas incandescentes das locomotivas atiradas a uma louca corrida, sós com os bêbados gesticulantes, com um certo bater de asas ao longo dos muros da cidade. Sobressaltamo-nos, de repente, ao ouvir o rumor formidável dos enormes bondes de dois andares, que passam chacoalhando, resplandecentes de luzes multicores, como as aldeias em festa que o Pó, transbordando, abala e arranca inesperadamente, para arrastá-las até o mar, sobre cascatas e entre redemoinhos de um dilúvio.
Depois o silêncio escureceu mais. Mas, enquanto escutávamos o extenuado murmúrio de orações do velho canal e o estralar de ossos dos palácios moribundos sobre as barbas de úmida verdura, nós escutamos, subitamente rugir sob as janelas os automóveis famélicos.
- Vamos, disse eu; vamos amigos! Partamos! Finalmente a mitologia e o ideal místico estão superados. Nós estamos prestes a assistir ao nascimento do Centauro e logo veremos voar os primeiros Anjos! Será preciso sacudir as portas da vida para experimentar seus gozos e ferrolhos! ... Partamos! Eis, sobre a terra, a primeiríssima aurora! Não há que iguale o resplendor da espada vermelha do sol que esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares! ...
Aproximamo-nos das três feras bufantes, para apalpar amorosamente seus tórridos peitos. Eu estendi-me em meu carro, como um cadáver no leito, mas logo em seguida ressuscitei sob o volante, lâmina de guilhotina que ameaçava meu estômago.
A furiosa vassoura da loucura nos arrancou de nós mesmos e nos enxotou pelas ruas, íngremes e profundas como leitos de torrentes. Aqui e ali uma lâmpada doente, atrás dos vidros de uma janela, nos ensinava a desprezar a falaz matemática dos nossos olhos morredouros. Eu gritei: -O faro, o faro só basta às feras!
E nós, como jovens leões, perseguíamos a Morte, com sua pele preta maculada de pálidas cruzes, corria pelo vasto céu violáceo, vivo e palpitante.
Mas nós não tínhamos uma Amante ideal que erguesse até as nuvens sua sublime figura, nem uma Rainha cruel a quem oferecer nossos cadáveres, contorcidos como anéis bizantinos! Nada, para querer morrer, a não ser o desejo de livrar-nos finalmente de nossa coragem demasiado pesada! E nós corríamos, esmagando nas soleiras das portas os cães de guarda que se arredondavam embaixo do ferro de passar roupa. A Morte, domesticada, ultrapassava-me em cada curva, para oferecer-me a pata com graça, e de vez em quando se estirava no chão, com um barulho de maxilares estridentes, enviando-me, de cada poça, olhares aveludados e acariciantes.
- Saiamos da sabedoria como de uma casca horrível, e atiremo-nos, como frutos apimentados de orgulho, dentro da boca imensa e retorcida do vento! ... Entreguemo-nos como pasto ao Desconhecido, não por desespero, mas somente para encher os profundos do Absurdo! Mal tinha pronunciado essas palavras, quando virei bruscamente sobre mim mesmo, com a mesma embriaguez insensata dos cães que querem morder a cauda, e eis que de repente vejo dois ciclistas que vêm ao meu encontro, titubeando como dois raciocínios, ambos persuasivos, apesar de contraditórios.
Seu estúpido dilema discutia sobre o meu terreno...
Que chateação! Arre! ... Cortei o assunto, e, de desgosto, atirei-me de rodas para cima num fosso...
Oh! fosso materno, quase cheio de água barrenta!
Lindo fosso de oficina! Eu saboreei avidamente tua lama fortificante, que me lembrou a santa mama preta ama sudanesa...
Quando me levantei - trapo sujo e malcheiroso - debaixo do carro virado, senti o coração perpassado, deliciosamente, pelo ferro incandescente da alegria!
Uma multidão de pescadores armados de vara e de naturalistas podágricos tumultuava em volta do prodígio. Com cuidado paciente e meticuloso, aquela gente preparou altas armaduras e enormes redes de ferro para pescar meu carro, parecido com um grande tubarão encalhado. O carro emergiu lentamente do fosso, abandonando no fundo, como escamas, a sua pesada carroçaria de bom senso e o seu fofo acolchoado de comodidade.
Pensavam que tivesse morrido o meu lindo tubarão, mas uma carícia minha bastou para reanimá-lo, e ei-lo ressuscitado, ei-lo correndo novamente, sobre suas poderosas nadadeiras!
Então, como rosto coberto da boa lama das oficinas, mistura de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuligens celestes - nós, contundidos e de braços enfaixados mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
Manifesto do Futurismo
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificência, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostar-se diante do homem.
8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos! ... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente.
9. Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.
É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o "Futurismo", porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários.
Já é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de belchiores. Nós queremos libertá-la dos inúmeros museus que a cobrem toda de inúmeros cemitérios.
Museus: cemitérios! ... Idênticos, na verdade, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos em que se descansa para sempre junto a seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos matadouros de pintores e escultores, que se vão trucidando ferozmente a golpes de cores e linhas, ao longo das paredes disputadas!
Que se vá lá em peregrinação, uma vez por ano, como se vai ao Cemitério no dia de finados... Passe. Que uma vez por ano se deponha uma homenagem de flores diante da Gioconda, concedo...
Mas não admito que se levem passear, diariamente pelos museus, nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa inquietude doentia, mórbida. Para que se envenenar? Para que apodrecer?
E o que mais se pode ver, num velho quadro, senão a fatigante contorção do artista que se esforçou para infringir as insuperáveis barreiras opostas ao desejo de exprimir inteiramente seu sonho? ... Admirar um quadro antigo equivale a despejar nossa sensibilidade numa urna funerária, no lugar de projetá-la longe, em violentos jatos de criação e de ação.
Vocês querem, pois, desperdiçar todas as suas melhores forças nesta eterna e inútil admiração do passado, da qual vocês só podem sair fatalmente exaustos, diminuídos e pisados?
Em verdade eu lhes declaro que a frequência diária aos museus, às bibliotecas e às academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registro de arremessos truncados! ...) é para os artistas tão prejudicial, quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens ébrios de engenho e de vontade ambiciosa. Para os moribundos, para os enfermos, para os prisioneiros, vá lá:- o admirável passado é, quiçá, um bálsamo para seus males, visto que para eles o porvir está trancado... Mas nós não queremos nada com o passado, nós, jovens e fortes futuristas!
E venham, pois, os alegres incendiários de dedos carbonizados! Ei-los! Ei-los! ... Vamos! Ateiem fogo às estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais, para inundar os museus! ... Oh! alegria de ver boiar à deriva, laceradas e desbotadas sobre aquelas águas, as velhas telas gloriosas! ... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!


quinta-feira, 10 de julho de 2014

A recepção, em 2014, do Futurismo

É difícil determinar a era artística que estamos vivenciando. Misturamos o real e o abstrato, vamos do métrico ao livre. Algumas pessoas acreditam que nos dias atuais temos reflexos de tudo o que o mundo já viu de “artístico”. No meio de tantas obras simples e complexas, belas e feias, se torna difícil determinar o que é cultura e o que não passa de traços em uma folha branca.
O futurismo sempre carregou consigo a preocupação de demonstrar o movimento e retratar a tecnologia ao redor da sociedade. Nesse detalhe, acabavam muitas vezes “humanizando” as máquinas. Não importava se a obra ficaria parecida com a realidade. Não importava se fosse horrível. Os artistas futuristas tinham prioridades a seguir, e dessa forma, o movimento foi mal recebido na época em que surgiu: não havia beleza para ver, mas havia beleza para se pensar, e muitos não perceberam isso.
Para analisarmos a mentalidade das pessoas na atualidade - se ainda é o mesmo da de décadas atrás -, uma enquete com dez pessoas foi feita sobre esse movimento artístico tão importante. Ela consiste na análise das três imagens seguintes:



Figura 1: Automóvel + Velocidade +Luz - Giacomo Balla.
Figura 2: Um Inglês em Moscou – Kazimir Malevich.
 Figura 3: A chegada - Christopher Richard Wynne Nevinson
A partir da análise, uma pergunta foi feita a eles: “você considera isso arte?”. O resultado obtido foi o seguinte:


Figura 1
Figura 2
Figura 3
Lucia Helena Coelho Lehmkuhl
Considera
Considera
Considera
Raphaela Rigo
Considera
Considera
Considera
Amanda Barth
Considera
Considera
Considera
Chrys Balardin
Considera
Considera
Considera
Luca Orichio
Não considera
Não considera
Não considera
José Carlos Afonso
Considera
Considera
Considera
Salete da Silva Afonso
Considera
Considera
Considera
Otávio da Silva Afonso
Não considera
Considera
Considera
Alex Fraga
Não considera
Considera
Considera
Ariosto Loureiro Filho
Considera
Considera
Considera
  
Muitos tiveram receio em responder que sim. Afirmavam que as consideravam arte, mas deixavam claro que o motivo seria basicamente porque “tudo hoje em dia é arte”, como afirmou Raphaela Rigo. Outros diziam não gostar das formas abstratas que os quadros tinham, mas não as desconsideravam, como fizeram Lúcia Helena e Amanda Barth.
Luca Orichio, porém, rejeitou as três obras sem espaços para questionamento, afirmando que elas não passavam de riscos sem sentido ou figuras sem significados. Chrys Balardin por outro lado, defendeu a ideia de que arte é nada mais nada menos que uma expressão, podendo envolver simbologias ou semelhanças em relação ao que as imagens mostradas remetem. Disse que as características dos traços instigam a curiosidade e o encantamento.
Encantamento e curiosidade que José Carlos Afonso não enxergou na figura 1. Nas outras duas ele usou de atributos como a presença de cores para definir algo artístico, e ao ver a primeira imagem, não havia um consentimento com o que ele acreditava ser significativo. Porém ele não desconsiderou a obra – afirmou que sim, era arte, mas não tinha valor... Era vazia.
Já Salete da Silva Afonso considerou que todas teriam um importante valor cultural, descrevendo cada obra. Na primeira, ela fala de rostos de animais ou pirâmides “flutuantes”. Na segunda, ela falou de peixes, escadas, e um homem. Na terceira, ela comentou sobre forros de igreja, pontes e pessoas.
Muitas outras fizeram essas avaliações através da análise dos objetos que os cercavam, como Ariosto Loureiro Filho, onde a figura 1 transmitiria a ideia de claro e noite, a figura 2 lembraria um quebra cabeça e a figura 3 o faria pensar em esboços de um projeto maior.
Mas voltando para a figura 1, “Automóvel + Velocidade + Luz”, é evidente que foi a obra mais distinta dentre as três e, por consequência, a que acolheu mais negações. Otávio da Silva e Alex Fraga afirmaram exatamente a mesma frase: “é só risco”. Posteriormente tentaram encontrar algum objeto, mas sem nenhuma nitidez.
O que deve ser relevante é o fato que a obra de Giacomo Balla, mesmo sendo a menos aceita, foi considerada arte por mais da metade dos pesquisados. É de se constatar: os tempos mudaram e as vanguardas fizeram um “estrago” – bom ou ruim – nas nossas cabeças. Se essa mesma enquete fosse feita no ano em que o futurismo se lançou ao mundo, é praticamente certo que o resultado seria negativo. Vivemos em uma era onde o belo e o feio se juntam. Numa era onde a arte tem espaço para todos e (quase) todos aceitam isso.
Pode-se afirmar, também, que a aceitação das obras nos dias atuais foi bem maior devido ao conceito que as pessoas têm sobre o que realmente é arte. Pois enquanto nos tempos mais antigos (anteriores às vanguardas) as obras seguiam um estilo quase imutável, com a variação apenas no traço de cada pintor ou nas singulares palavras de cada escritor e poeta, hoje em dia, a mudança se tornou um elemento praticamente essencial para as obras, textos e pinturas, fazendo com que coisas antigamente consideradas estranhas, diferentes ou bizarras, transformassem-se em algo mais normal na atualidade, modificando o conceito de arte e deixando-o mais abrangente.

Dito tudo isto, podemos chegar à conclusão de que, sim, as obras futuristas são muito melhor aceitas nos dias de hoje do que quando foram mostradas ao público pela primeira vez, e que uma parte da culpa disso pode ser atribuída à transformação do conceito das pessoas sobre o que é arte e o que não é.